- Puta que
pariu, demora da porra!
Falou o rapaz
antes de entrar no carro. Seu irmão, que esperava ao volante, estranhou ao
ouvir o mantra da impaciência baiana, entoado desta forma. Foram só alguns
minutos, algumas dezenas apenas. E não cabia para um familiar seu expressar
desta forma, seu pouco de impaciência. Após um pequeno sermão sobre a
inadequabilidade entre os filhos de Deus e sentimentos como a raiva e também os
nomes chulos, pôs-se a ensinar o irmão a domar a sua paciência.
- Outro dia
fui num banco e vi que a fila era grande, dez minutos depois percebi que mal
saí do lugar. O que fiz? Comecei a orar para Jesus.
- E daí?
Retrucou o irmão.
- Orei dez
padres e a fila continuava grande. O que fiz?
- Sei lá!
- Orei mais
dez.
- E a fila
diminuiu?
- Não. Então
eu vi que era pouco. Dobrei e rezei mais vinte.
- E a fila?
- Saíram cinco
pessoas. Vi que esse era o caminho e continuei orando. Se foram mais vinte.
Percebi que precisava redobrar a minha fé. Resolvi ir até cem.
- Cem padres
numa fila?
- Cem! E não
parei por aí...
- Mas e a
fila?
- Claro que
diminuiu. Lado a lado com gente tão forte, você acha que a fila ia durar pra
sempre? Resolvi dobrar de novo. Fui a duzentos.
- Peraí! Mas
nesse momento, como é que estava a fila?
- Quase metade
do que encontrei. Viu como dá certo?
- Mas, metade antes
ou metade depois dos duzentos.
- Depois dos
duzentos. Aí eu pensei que talvez lá pelos quinhentos eu já estaria sendo
atendido.
- E foi?
- A verdade é
que nem lembro mais. Já devia estar além disso quando o caixa me atendeu. Mas
viu como adianta? Se tivesse me irritado como você, talvez a fila não andasse
tão rápido.
O irmão
resolveu começar a rezar, pra não xingar a própria mãe.