A Sutil Diferença entre o Se Foda e o Foda-se



Nunca li o livro sobre a arte do foda-se, então desde já peço perdão por interpretações incorretas, falo aqui o que acho, pelo simples fato de que aqui faço o que quero e se alguém não gostar...
Falarei primeiro sobre o foda-se, sua colocação em segundo no título se deve ao som produzido pela arrumação que ficou e não pela ordem de apresentação dos temas. Bem, sobre o foda-se podemos dizer que é uma palavra necessária para toda a vez que alguém, algum patrulhamento ideológico insistir em, de alguma forma, alterar o seu estado de equilíbrio em sua relação com o mundo. Em outras palavras, toda vez que alguém tenta intervir na vida de terceiro com intenção de dirigir.
Se a vida fosse cinema, é quase certo que todo mundo gostaria de exercer a direção, ser ator é ser dirigido, não calha para quem sabe mais que os outros. E cá pra nós, quem na face da terra não julga guardar todas as mais corretas respostas para quaisquer coisas que aconteçam por cima da terra ou por baixo das águas? Quiçá até pelas vastidões imensas do universo. Todo mundo sabe tudo, embora demonstre uma certa dificuldade em estabelecer a mesma qualidade de respostas para a própria vida.
Como todo mundo sabe tudo e, consequentemente, reina uma certa animosidade quando alguém que sabe tudo é direcionado a fazer algo que não quer, resta como opção declinar da ajuda do @#%$*&@ com um sonoro foda-se. Este restabelece cada um ao seu lugar de centralidade dentro da harmonia universal, e cada um pode exercer a sua individualidade e se foder com as consequências de suas decisões, porém com a certeza de que decidiu a partir de sua própria cabeça os caminhos a seguir.
O se foda é mais complexo e remonta aos inícios do surgimento do liberalismo econômico. Surgiu como resposta a toda pessoa socialista, comunista, defensora de direitos humanos, pobre, do sexo feminino, negra, indígena, etc., que se aventure a questionar os efeitos do exercício da “livre concorrência” para estes setores da sociedade. Nestes casos, a resposta padrão, mesmo travestida de uma série de explicações econômicas e estatísticas, na verdade é um sonoro se foda, que muita vez vem acompanhado de outra palavra, formando assim uma expressão um pouco mais complexa. Esta palavra é o “que”.
Toda vez que uma emissora de TV explicar, por exemplo, sobre o impacto da reforma da previdência para as empregadas domésticas, por baixo da discriminação cheirosa dos senhores brancos que arrotam todo o seu preconceito de classe, ouçam um sonoro; que se foda!
Quando o economista, com toda a sua pompa de garotinho de classe média bem educado em colégios caros, explicar os efeitos da ampliação do agronegócio para a conservação das terras indígenas, ouçam um majestoso; que se foda!
Quando o seu presidente disser que vai liberar a posse de armas como resposta aos crimes de feminicídio, ouça um fenomenal e gigantesco: que se foda!
Toda vez que você tentar acessar um direito básico do cidadão e alguém, de alguma forma, tentar lhe explicar os motivos de seu pai poder morrer na fila do hospital, seu filho não ter direito à escola, você não ter direito à aposentadoria, sempre, sempre o que, na verdade, estará sendo dito é um fodástico e irrepreensível...