O Psicólogo




       Durante dois anos frequentei um psicólogo. Por conta de uns problemas de trabalho. Na verdade problemas com o patrão. Era um sujeito grosseiro e mal agradecido que importunava a todos. O psicólogo não, o patrão! O psicólogo era, por assim dizer, tranquilo. Não acredito que dele partiria algum tipo de ofensa ou mau trato a alguma pessoa. Pelo menos é o que acho, pois do achismo à realidade vai uma grande distância.
       Pois bem, comecei a frequentar as sessões para aprender a lidar com os traumas causados na relação patrão-empregado. Lembro do primeiro dia, quando relatei as histórias de meu sofrimento no trabalho. O psicólogo ouviu tudo balançando a cabeça e depois me perguntou sobre minha relação com meu pai, sobre as minhas amizades, coisas do tipo. Ao terminar a sessão ele falou uma frase que se tornou constante em nossos encontros: “No fundo, no fundo, ele só quer fazer amor com você”.
      Fiquei confuso, não sou de muito estudo, mas já li alguma coisa sobre psicanálise e esses trabalhos de psicólogos, sei que eles gostam de meter relação com pai e mãe, coisas fálicas, sonhos e tudo quanto é coisa do passado ou da fantasia no meio. Misturam o que foi, o que é, o que não é, tudo pra tentar entender os problemas da gente. Será que ele acreditava que eu sentia uma atração pelo meu chefe? Será que fiz alguma coisa e ele pensou que eu?... Não, mas eu não fiz nada! Por precaução, tomei um chá de cimento e enrijeci as articulações do meu corpo pra ele não pensar o que não deve.
       Mas o fato é que ele continuou a usar aquela frase em todos os nossos encontros. Encontrava um jeitinho, por mais que minha narrativa fugisse a minha relação com o chefe, ele sempre arrumava um jeito de encaixar aquela frase. Às vezes falava no final da sessão, às vezes encaixava no meio de uma explicação sobre alguma coisa.
       Comecei a pensar que, talvez, a partir da minha fala e de todos os indícios que eu trazia, o psicólogo, muito esperto e dado a lidar com esse tipo de investigação, tenha descoberto que o meu patrão, na verdade, nutria por mim uma paixão. Talvez ele tenha deduzido através de uma dessas explicações complicadas que a psicologia faz da vida, coisa de inconsciente, subconsciente, borda e outras coisas.
       Comecei a ver uns olhares estranhos do meu patrão, vindos na minha direção, percebia um certo carinho em sua voz, quando ele gritava comigo. Comecei a ficar paranoico, e após meses ouvindo aquela frase saltar da boca do psicólogo, não aguentei e perguntei
       - Por que o senhor cita sempre essa frase?
       Com a mesma calma e rosto impassível de sempre, ele respondeu.
       - Por que ele só quer lhe fuder.