- Poxa rapaz, nunca mais te vi! E
aí, como você tá?
Respondi com cara de
estranhamento, assustado com tanta simpatia, depois de anos sem notícias e sem
respostas às mensagens que lhe havia enviado.
- Tá morando onde? Lembra de José
Antônio? O advogado? Encontrei semana passada.
Talvez ele não lembre que nunca
tive amizade com esse José Antônio. Ao contrário do que acontecia com ele.
Fomos muito amigos nos tempos da faculdade, por diversas vezes estudamos juntos
e caminhamos pelas ruas da cidade, dissertando nossas teorias sobre o mundo,
planejando o futuro ou simplesmente conversando sobre futebol.
- Lembra de Angélica? Aquela que
estagiou comigo na escola? Casamos. Dois filhos. Um menino e uma menina.
Nesse momento me mostrou a foto das
duas crianças. Mostrou novamente a foto de Angélica, que eu conhecia muito,
principalmente devido às criticas que ele próprio tecia, diariamente. A imagem
que ele construía, dessa ex-colega, era algo que nunca me faria acreditar em
casamento, apenas em litígios.
- Estou morando no Cabula. Lá
perto da universidade. Você ainda mora no IAPI? Fui lá na semana passada. Mas
desde a última vez que te vi, troquei o telefone umas cinco vezes. Perdi a
agenda.
Mas ele se referiu, logo após, a
umas três pessoas da universidade que nem eram grandes amigas dele, embora
constassem, e confraternizassem com ele, em suas redes sociais, segundo seu
próprio relato.
- Poxa, rapaz, dá uma saudade
daqueles tempos de faculdade!
Engraçado, pensei que agora era
melhor, pois se referiu ao seu Corolla três vezes. Falou também da sua casa de
praia em um condomínio fechado em Lauro de Freitas, além das viagens ao
exterior. Quem vive assim, geralmente, não tem saudade de uma conversa
caminhante com um sujeito inexpressivo como eu.
Pegou meu contato telefônico e
disparou:
- Olha, não vá sumir! Senti muita
falta sua. Vamos nos telefonar. Precisamos nos encontrar mais vezes. A cidade
não é tão grande assim. Nove anos sem a gente se ver. Poxa, você sumiu. Parece
até que é antissocial! Há, há, há, há...
Respondi na lata:
- Você tem meu e-mail, não tem?
Eu estou do outro lado da tela!